quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

With a little help from my friends

Certa noite, fui dormir com aquela chuvinha gostosa de ficar em casa vendo filme. Na manhã seguinte, ao atravessar a recepção do condomínio, o porteiro me alertou antes mesmo do tradicional bom dia: “Ninguém ta passando. Ta tudo fudido!”. Desci à garagem e por meio metro o rio não a invadia. Dei carona ao porteiro que esperava seu ônibus por mais de 3 horas.
A pontezinha que leva da Estrada União e Indústria à BR-040 estava submersa. No centro de Itaipava, a água subira quase dois metros acima do nível da rua. Dei meia volta e peguei outra ponte, na conta-mão. A correnteza a tocava com fúria. O cenário era de Independence Day. Centenas de pessoas espantadas na rua. Carros e caminhões e ônibus e mais carros e motos, todos parados na beira da BR. Seja por não conseguirem chegar ao destino, seja por simples curiosidade. Meia dúzia de morros deslizou perto de casa. Passei com cuidado e cheguei ao trabalho.
Na volta pra casa, a situação era desoladora. A água já tinha baixado no centro de Itaipava. Porém havia lama por toda a parte. Árvores caídas e mais deslizamentos. Dezenas de tratores e caminhões tentavam limpar os estragos.
Chegando em casa comecei a acompanhar a contagem sinistra. “Já passam de 50 os corpos encontrados na região serrana”. 100, 200, 500. Foi quando, após 29 anos, finalmente me sensibilizei e mandei um simples email pedindo ajuda a alguns amigos. A contagem parou de ser de mortos e virou contagem de doações: 100, 200, 500, 2400 reais ao todo! Isso foi revertido em quase 300 quilos de alimentos e quase 2000 itens higiene pessoal, limpeza e vestuário.
Apesar de todo o clichê, demorei muito pra entender o que é possível fazer se cada um fizer um pouquinho. 20 pessoas foram muito generosas e juntos conseguimos ajudar centenas de outros seres humanos. Talvez alguns milhares. Nos centros de arrecadação, era incrível a vontade que os inúmeros voluntários descarregavam carros e caminhões e contavam e armazenavam doações. Era contagiante.
É incrível o que é possível se fazer com uma pequena ajuda dos seus amigos.

sábado, 1 de janeiro de 2011

O Padroeiro da Renovação

Sempre fui aficionado por ciclos. E não sou só eu que é assim. Quantas poesias a lua já não rendeu ao minguar e crescer indefinidamente levando e trazendo consigo as marés? Adoro me encontrar em um mesmo lugar do passado, mas sendo outra pessoa agora no presente. Uma pessoa mais crescida em diversos aspectos e, talvez, minguante em outros. De qualquer modo, outra pessoa.

O fim do ano é, para mim, uma época mágica. Não pelas luzes e pelo bate-o-sino, mas por ser o meu marco de reflexão. Muitos acusam os otimistas de tolos que têm falsas esperanças para o ano vindouro. O fim do ano é simplesmente meu rápido fechamento para balanço. Poderia ser qualquer outra data ou mesmo nenhuma. Eu escolhi o fim do ano justamente por minha paixão pelos ciclos.

Não há símbolo melhor, em minha opinião, para o fechamento deste ciclo do que a Corrida de São Silvestre. Durante os 15 quilômetros, em meio a gritos de apoio e fantasias criativas, me pego a pensar nas conquistas que tive no ano que termina, nos lugares que conheci, nas palavras que aprendi, nas pessoas que perdi, nas estórias que escrevi (minhas queridas piruás), nos filmes que assisti e no aumento que não recebi. Treinamos por meses para a prova. Ela é nossa festa de entrega do Oscar. A comemoração pelo fim de mais esta fase e pelo começo de uma nova. Este ano não foi fácil. Nunca é. O joelho dói, o coração explode, a boca seca e a pele queima. Mesmo assim, a Brigadeiro volta ser plana, nós viramos à direita e lá está novamente a Paulista. Lotada. Aplausos por toda parte. O ano acabou com a sensação única que só sabe quem já completou essa corrida.

Desconheço quem tenha sido São Silvestre. Não tenho a menor idéia dos milagres que lhe foram atribuídos. Contudo, para mim, ele é o santo que cuida dos ciclos de nossas vidas. O padroeiro da nossa renovação. Já dizia um velho amigo:

Everybody had a hard year.
Everybody had a good time.
Everybody had a wet dream.
Everybody saw the sunshine.


Que 2011 seja muito melhor que 2010 para todos nós!

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Beber sem brindar

Oito meses sem postar.