quinta-feira, 21 de maio de 2009

Cada um no seu quadrado

O ônibus que vai de Petrópolis a São Paulo comporta exatos 42 passageiros. Se minha matemática não falha, a probabilidade de um(a) filho(a) de meretriz sentar-se exatamente ao meu lado é bem pequena. Entretanto, em 1947 Edward A. Murphy inventara uma lei que fez com que a última viagem do tal ônibus seguisse madrugada a fora com uma única luz acesa: a da poltrona ao meu lado.

Voltemos uma hora no tempo...

Sentei-me no lugar em que minha passagem mandava e logo tratei de acomodar-me. Por volta de 5 minutos depois, uma mulher mal-acabada de meia-idade (doravante denominada Tia Mofada) parou e fitou o número em cima de minha cabeça. Sem pensar muito, jogou-se no assento ao meu lado e não fez questão nenhuma de evitar que sua imensa sacola voasse em direção ao meu rosto. Obviamente a Tia Mofada não fazia conhecimento dos verbetes “licença” e “desculpa”. Eu pensava em ensinar-lhe tais vocábulos e mais uns calões carroceiros quando o motorista veio dar seu habitual recado sobre cintos de segurança e água ao fundo do veículo.

Em seguida o ônibus partiu e as luzes se apagaram. A Tia Mofada, que há pouco começara a ler um livro, esticou com certo esforço seu braço direito para acender sua lâmpada individual. Uma mistura de cheiro de suor com armário fechado há anos formavam o aroma que deu o adjetivo à nossa protagonista. Passados os efeitos do envenenamento que sofri, pude contemplar a sacolona entre suas pernas que invadiam meu espaço e seu cotovelo que cutucava minha saliência abdominal nutrida a colesterol e sedentarismo. “Sugiro que a senhora mova sua sacola um pouco para trás, para dentro de seu cu!”, ordenou meu cérebro à minha boca, mas infelizmente meu bom senso tem poder de veto.

Para deixar a noite ainda mais agradável, um casal (certamente formado por uma proxeneta e um travesti) conversava tranquilamente como se estivessem em um botequim. E assim a situação prosseguiu até que a Tia Mofada chegou ao capítulo 5 “A surpresa de Nestor”, fechou o livro, apagou a luz e logo começou a roncar.

Minha repulsa não é apenas contra a Tia Mofada ou o casal de desgraçados. Mas também contra o celular no meio do filme, o adolescente babaca ouvindo música alta no ônibus, o motorista que não pára na faixa de pedestres e toda essa escória que sempre incomoda quem está por perto.

Pois é...talvez tenham razão e eu esteja mesmo ficando velho e chato. Mas não estou velho o suficiente para esquecer-me da Tia Marli e suas aulas de educação moral e cívica na quarta série: “O seu direito termina onde começa o do próximo”.