quinta-feira, 15 de novembro de 2007

O Ego e o Flato

Sua vida é extraordinariamente fantástica.
Seus incríveis feitos saltam
de modo incontrolável dentro de si,
impacientes para serem exalados
na forma de discursos arrebatadores
que exaltem sua maestria.

Nas rodas de amigos (ou mesmo estranhos)
o desejo de exibir-se começa a crescer.
Ele sabe que o narcisismo pode ser constrangedor.
Mas a vontade torna-se irreprimível.
A cada novo assunto, a cada nova frase,
o anseio por ao menos um relato
que engrandeça sua imagem aumenta.

Após uns momentos ele se rende.
Começa a narrar mais um de seus magníficos atos.
Tem noção de que incomodará os outros,
porém sente-se completamente aliviado.

sábado, 28 de julho de 2007

Navegar Impreciso


"A pátria-avó se volta sem memória
De todos estes anos de amor
Um amor sem beijo e sem resposta
Responde agora a uma nova sedução
Teus Joaquins, teus açougueiros, filhos de uma mãe-avó
Os bons e os maus tratos que te dei
Sucumbem com tamancos, camisetas sob a lei
Que ouviste a nova-velha Europa a te ditar
E voltas tuas costas para mim
Voltas tuas costas para o mar
Prás tuas conquistas, pro teu navegar
Prá tua cruz de malta sobre o azul
Um dia foste forte e generosa
Mas hoje tua memória não tem sul
Não é porque já não se usa navegar
E nem é por tua idade, eterna sois
Mas nunca mais a nossa velha intimidade
O sabor inigualável dos teus pães"
(Padrão dos Descobrimentos - Lisboa - Julho 2007)

domingo, 8 de julho de 2007

Paralelismo

Como eu mato aquela personagem?
O problema do cliente deve ser a conexão ao banco de dados.
Uma palavra que rime com amor?
Amanhã compro um pacote de arroz e uma caixa de hambúrgueres.
Minha querida, essa é mais uma carta com a qual...
“It's the eye of the tiger, it's the cream of the fight
Risin' up to the challenge of our rival”
Amor rima com dor, mas basta de clichês.
...carta com a qual tento inutilmente reduzir nossa distância.
Humm...prepararei o arroz com açafrão.
“It's the eye of the tiger, it's the cream of the fight
Risin' up to the challenge of our rival”
2 slides de conclusão tá bom.
Sua irmã adotiva poderia matá-lo dando pancadas
em sua  cabeça     com           uma                 pá...
zzzzz zzzzz zzzzzzzzzz

terça-feira, 26 de junho de 2007

domingo, 3 de junho de 2007

Sabato Sera

Sabato sera
Cielo sereno
Canzone sentimentale
Solitudine a casa

Nostalgia della mia terra
Assenza dell’amore mio

Cerco la parola esatta
Ma non la trovo
Proprio ora che ne ho più bisogno
Lei non abita da questa parte del mondo

La distanza è chi la crea
Il tempo è chi la nutre
Tutti i cuori l’hanno già sentita
Però Dante non è riuscito a concepirla

La parola che manca
Che esprime mancanza
E’ Saudade – sinonimo di sabato sera

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Nota sobre a vitamina E

"Os radicais livres não são totalmente prejudiciais. Eles são produzidos, em quantidades moderadas, a todo momento e atuam combatendo as bactérias e vírus presentes em nosso corpo. Nosso próprio metabolismo produz inúmeras substâncias para neutralizá-los. No entanto, quando passamos a produzi-los em excesso, eles tornam-se prejudiciais, pois passam a danificar rapidamente as células saudáveis e, com isso, aumentam o risco para o desenvolvimento de câncer, doenças do coração e para o envelhecimento precoce."

Wikipédia

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Lugar Comum (ou Vitamina E)

Nas aulas colegiais de história,
a biografia de antigos heróis
chega e vara o puro coração
de garotos idealistas.

Os meninos aprendem a não seguir a multidão.

Logo fortalecem seus pulmões

de modo a terem fôlego

para nadarem contra a correnteza.


Os mais inteligentes percebem

que tudo que é comum e está enchendo o saco

deve ser completamente ignorado.

E o resto é arrastado pela modinha.

Lê ninguém lê.

O bom é marxar até a capital

e derrubar o presidente.

Todo o grupo está limpo

sem Big Mac no sangue romântico.


O jovem fidelíssimo à causa

jamais abrirá mão de seus ideais

e muito menos de sua própria idade.

(Típico dos grandes líderes)


Nesses aspectos de revolução
e de guerrilhas para atingir tal meta

eu só “quero ver Cuba lançar”.


Nota sobre a vitamina E

terça-feira, 8 de maio de 2007

Cedo Demais

O interfone tocou.
Silenciosos passos dolorosos
Atravessaram o longuíssimo quintal.
Um silencioso abraço seguido de pranto
Tornou óbvio o que acontecera.
Mesmo assim a pergunta escapou de minha boca.

Até hoje minha melancolia reflete
Continuamente tal cena aos meus olhos.

O destino, a natureza, O Senhor.
Seja o que for que rege
A sinfonia de nossas vidas
Impossibilitou para sempre
O doce abraço de formatura,
As aulas de direção
E as conversas de homem para homem.

As feiras dominicais de automóveis nunca mais seriam as mesmas.
Nossas vidas nunca mais seriam as mesmas.

Aquele volumoso bigode que o acompanhara
Desde minhas primeiras lembranças
Fora raspado dias antes
Simbolizando, segundo ele, uma nova vida.
E realmente o foi...

Quando vi pela primeira vez seu novo rosto,
Ele estava rodeado de flores.
Tarde demais.

domingo, 15 de abril de 2007

Causo Ligeiro

Nos confins da África meridional, um fotógrafo neozelandês, após encontrar o retrato perfeito que há tanto procurava, dirigiu-se faminto a um restaurante típico. Nem abriu o cardápio. Solicitou diretamente a recomendação do chef. Depois de uma dúzia de minutos, a iguaria foi servida. Tratava-se de um prato rodeado por um suave molho branco e manjericão. Ao centro, um anelídeo que se movia lentamente. Levemente alarmado, o peregrino, na língua de Camões, indaga ao garçom:
- E como vivo?
- Vivo!


quarta-feira, 11 de abril de 2007

Poética

Primeiro os dedos digitam os versos.
Em seguida moldo minha filosofia
de modo a adaptá-la à poesia.
Escrevo e depois interpreto
buscando sentido no produto criado e enfim,
meu pensamento se alinha àquelas palavras.

Pior quando a cabeça cisma tanto com a forma
que nasce uma garota malhada que não sabe falar.

Caso o tema insista em não brotar,
sempre em algum canto da mente
estará ali quietinha a metalinguagem:
leal companheira da arte pela arte.

domingo, 1 de abril de 2007

A gente era infeliz e não sabia

Vem Cabral!
Traz contigo teu povo, tuas bugigangas e teus jesuítas.
Livra-nos de nossa liberdade, de nosso ouro e de nossos ritos.
Salva-nos!

Vem Bush!
Traz contigo teu exército, tuas multinacionais e teu modo de vida.
Livra-nos de nossa liberdade, de nosso petróleo e de nossos ritos.
Salva-nos!

Vem Rede Globo!
Traz contigo tua opinião, teus atores esbeltos e teus Big Brothers.
Livra-nos de nossa liberdade, de nosso amor próprio e de nosso discernimento.
Salva-nos!

Por todo amor de vosso Deus:
Ensinai-nos a viver!

sexta-feira, 16 de março de 2007

Pessoas

Tem Pessoa que foi mais de três poetas.
Eu tento, insisto e não sou nem um.
Vejo e invejo verdadeiros Reis que deslizam
tranquilamente sobre formosos Campos de lirismo.
Vejo pessoas que se transformam em poetas.
Vejo Pessoa que transforma poetas em pessoas.
Quero ser poeta mesmo que seja preciso fingir.
Pois “o que é necessário é criar.”

quarta-feira, 14 de março de 2007

Falemos de cinema

Eu amo a sétima arte. Todo mundo a adora. Inclusive meu avô, casmurro que é, gosta de um filminho de vez em quando (desde que haja muitos pontapés ou tiroteios e pouco romance). O último que eu assisti foi O Grande Truque (The Prestige), uma belíssima película na minha opinião. Cheio de estrelas. Além do Wolverine, tem o Batman no papel de Alfred e o Alfred num outro papel, mas ainda realizando sua função de construir brinquedinhos para que outros levem a fama. Seu diretor (Christopher Nolan) fez apenas uma meia dúzia de longas até hoje, entre os quais estão Insônia (Insomnia) que eu considero um bom filme, Amnésia (Memento) que eu acho genial, e Batman Begins (Batman Begins) que na minha opinão é o melhor filme de super-herói de todos os tempos.
O Grande Truque é um filme sobre mágica, assim como O Ilusionista (The Illusionist), também de 2006. Aliás, 2006 rendeu uma ótima safra de grandes filmes hollywoodianos. Apaixonei-me por Os Infiltrados (The Departed), Xeque-Mate (Lucky Number Slevin), Filhos da Esperança (Children of Men), Babel (Babel) e À Procura da Felicidade (The Pursuit of Happyness ). Sem contar os que não vi, mas ouvi falar muito bem como Pequena Miss Sunshine (Little Miss Sunshine) e Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima). Até Rocky Balboa (Rocky Balboa) dizem que tem superado expectativas. Isso tudo é só uma pequena amostra do que foi o ano de 2006 para Hollywood.
Não posso me esquecer dos cinemas francês e iraniano. Apesar de não conhecer nenhum título recente, tenho certeza de que há ótimas obras, visto que todo e qualquer ser-humano que se considere intelectual afirma apreciar tal cinema…

terça-feira, 6 de março de 2007

Incontrolável

Essa é a história de luta de Dimas, um homem que sofreu durante toda sua vida por conta de um forte cacoete. Enquanto falava, volta e meia fazia involuntariamente um brusco solavanco com a cabeça para o lado direito. Apesar de na idade adulta ter vencido a vergonha de sua peculiaridade, quando criança sempre se lamentava:
- Por que justo eu tenho esse cacoete?
O tempo passou. Ele amadureceu. Tudo parecia estar melhor, mas o destino voltou com sua ironia. O pai de Dimas morreu brutamente em um acidente. Dimas estava perplexo no velório ao lado do defunto:
- Por que eu tenho essa porra de cacoete? Hein? To falando com você! Por que você me criou com essa merda de defeito?
A dor da perda fez com que ele quase enlouquecesse. Mas mesmo assim foi forte e continou. Arrumou um bom emprego e uma namorada. Alguns anos depois da tragédia, ele a levou ao restaurante que ela tanto sonhava. Queria surpreendê-la pedindo sua mão. Mas depois de tê-la convidado, ela passou a ter certeza de que o pedido viria naquela noite. Após algumas taças de vinho francês, Dimas começou seu discurso:
- Você não me respondeu. Por que o cacoete? Tô falando com você, narrador de merda. Por que não outra personagem? Por que eu? Responde seu bosta!
- Pára de gritar! Todo mundo tá olhando pra gente?
- Eu sou o protagonista caralho!
- Desculpa Dimas, mas eu vou embora. Acho que você bebeu demais…
Ela saiu do estabelecimento chorando e foi para sua casa. Dimas pagou a conta e também se foi. Mal entrou em sua casa, correu para o telefone. Estava furioso mas ligou para se desculpar.
- Não vou ligar porra nenhuma! Trata de tirar esse meu cacoete. Narradorzinho de merda! Aprende a redigir seu mané! Você já reparou no tanto de “mas” que você escreve? Hein? Usa sinônimos, imbecil. Que história fui me meter viu…

………………

Essa é a história de luta de Dimas, um belo homem com um físico atlético. Muito inteligente e sagaz é também um ótimo ciclista. Entretanto tem um problema: é gago.
Em seu quinto aniversário ganhou sua primeira bicicleta. Com o amor que lhe era característico agradeceu sua mãe:
- Ga-gago é a pu-puta que o pa-pa-pariu! Po-pode mu-mu…mu-mudar!
- Ah muleque mal criado! Toma essa!
Após a surra, sua gagueira milagosamente sumiu. Em seu quarto falou para si mesmo:
- Agora sim narrador! Agora vou contribuir com a sua história. Pode confiar em mim!
Ele cresceu colecionando medalhas e troféus de torneiros ciclisticos ao redor do mundo. Era um dos melhores ciclistas do planeta. No entanto, durante uma prova rompeu seu tendão de Aquiles. Submeteu-se a uma cirurgia que, devido a um erro médico, o deixou com o pé esquerdo torto para dentro. Uns amigos passaram a chamá-lo pelas costas de Curupira.
Sua deficiência fez com que ele deixasse as pistas. Mesmo assim continou lutando. Arrumou uma belíssima namorada e abriu uma escola de ciclismo. Certo dia, durante o horário de almoço, foi para a frente do prédio de sua namorada com um buquê de flores fazer-lhe uma agradável surpresa. Estava esperando na esquina enquanto repassava as belas palavras que falaria a ela:
- Enfia essas flores no seu cu seu filho da puta! Por que eu tenho que ter um problema físico? Você não consegue criar um protagonista normal? Vou dar um chute com meu pé torno na sua cara, seu viado!
Foi nesse momento que um caminhão desgovernado foi em direção ao nosso protagonista. Certamente iria atingí-lo e matá-lo quando Dimas suplicou:
- OK! Já entendi! Tá bom! Eu páro de reclamar. Não me mata, por favor!
E milagrosamente o caminhão conseguiu evitar o acidente.
Alguns minutos depois, sua querida namorada saiu do prédio. Porém, não estava sozinha. Um rapaz muito bem vestido a abraçava de um jeito muito carinhoso. De repente os dois se beijam. Dimas se conteve:
- Tá de palhaçada né? Porra! Aleijado e corno! Vai pra puta que o pariu!
Ao ouvir isso, o amante de sua namorada, que era lutador peso pesado de Jiu-Jitsu foi em direção a ele com tom ameaçador:
- Ei otário, o que você disse?
- Ai meu Deus! – A namorada de Dimas se assustou – Não faz nada com ele, por favor! Olha o pé dele…
- Cara, é esse narrador! Ele me fez gago, depois me curou. Depois me aleijou. E agora colocou você na minha vida pra roubar minha mina e me socar. Eu só quero ser normal! Por favor! Normal! Faça o que você achar que é justo. Quer me bater, me bata. Não reagirei…
- Sorte sua que além de aleijado você é louco. Senão eu te socaria aqui mesmo….Vamos embora gatinha.
- Hahaha…deu errado! Viu seu narrador de merda! Seu plano de me fazer apanhar deu errado. Eles foram embora. Não adianta você tentar. Ou você me faz normal, ou eu estrago seu conto. Eu posso não ter o controle total aqui, mas você também não tem o controle sobre mim.
Algo muito inesperado aconteceu. Um homem de terno preto e óculos escuros dobrou a esquina. Era conhecido como “O Narrador”.
- Finalmente eu consigo falar diretamente com você – Disse O Narrador a Dimas.
- Era só o que me faltava…
- Eu nunca tive problema com personagem alguma. E não será você que destruirá minha história. Se você não percebeu, essa deve ser uma história de luta e superação. O protagonista deve ter algo que faça com que os outros não o considerem normal. Mas no final ele vence os preconceitos e mostra que é igual a qualquer um.
- Olha aqui, o seu desgraçado! Ou você me faz direito ou eu não vou contribuir porra nenhuma e ainda te quebro aqui mesmo.
- Eu j
á cedi duas vezes. Não mudarei suas características de novo.
- Vai tomar no olho do seu cu!
- Dimas, essa é sua ultima chance.
- Vai se foder!
Foi aí que O Narrador sacou uma pistola automática e deu 5 tiros no peito de Dimas. Depois que ele foi ao chão, O Narrador disparou mais 7 vezes na cabeça do aleijado. Não satisfeito, começou a chutar o corpo ensanguentado.
- Parado! Polícia! Solte a arma ou atiramos!
O que a polícia não sabia é que O Narrador tinha uma arma escodida no
- Fogo!
No no lahefjcwekms

sexta-feira, 2 de março de 2007

O Nome de J. Pinto Fernandes

Uma inesperada brisa matinal refrescava aquela quarta-feira de janeiro. Os comerciantes locais abriam suas portas. Uma senhora puxava, com certa dificuldade, seu carrinho pela rua de paralelepídedos em direção à feira perto da praça. O novo office-boy, que começara na segunda da mesma semana, saiu pela terceira vez à calçada para verificar se o patrão chegava. Frustado, entrou novamente no escritório.
- Ainda não? – A secretária perguntou.
- Tsc tsc.
Se o tal cliente, localizado no outro lado da cidade, não recebesse aqueles dois contratos até às 10, o negócio não seria fechado. A secretária exalava desespero:
- Mas ele não os assinou?
- Você não escuta? Ele assinou um só.
O office-boy sacou os contratos de sua pasta e os mostrou à secretária. Ao ver a assinatura, ele se lembrou de uma dúvida que tivera no dia anterior:
- Qual é o nome do Sr. Fernandes?
- Ele nunca se atrasou assim. Estranho…
- Você não escuta mesmo. – Aumentou o tom da sua voz.
- Hein?
- O nome do chefe. Qual é?
- Sr. Fernandes oras…
- Não! O primeiro nome. O jota. O que significa o maldito jota?
A apreensão do rosto da jovem foi substituída por um sorriso. Naquele momento um homem de meia idade, vestindo terno e gravata, saiu de outra sala e se dirigiu aos dois de forma apressada.
- Estou com aquele fornecedor na linha. Ele ainda não chegou?
- O nosso novo colega tá perguntando o que significa o jota no nome do chefe.
O homem elegante se acalmou e também sorriu.

Ao fundo da já citada rua de paralelepípedos surgiu, quase em marcha atlética, o Sr. Fernandes. Apesar dos vários algarismos no saldo de sua conta bancária, ele não possuia um automóvel. Naquela manhã estava tão preocupado com seu atraso que nem sequer prestava atenção aos carros enquanto atravessava a rua. Não notou uma pedra que tinha no meio do caminho e caiu de joelhos no chão. Após se levantar soltou três ou quatro blasfêmias olhando para o céu. Logo em seguida lembrou-se de Carlos, seu pai, que com sapiência dizia “Não se deve xingar a vida, a gente vive, depois esquece”.
Era um homem sério cujo rosto magro se mostrava esculpido pelo tempo. Um funcionário se referia a ele como “o homem atrás dos óculos e do bigode". Andava sempre bem vestido e acompanhado de uma pasta preta, a qual ninguém sabia o que tinha dentro. Mais intrigante que o conteúdo de sua maleta era o significado da letra jota de seu nome.

- O nosso novo colega tá perguntando o que significa o jota no nome do chefe.
- Ai ai ai, meu caro. Esse é o terceiro segredo de Fátima. Você mal foi admitido e já está se indagando sobre tão delicado assunto.
- É…eu achei estranho, porque ontem fui pagar uma conta com um cheque dele e vi que na assinatura não tinha o primeiro nome. O mais engraçado é que o nome impresso no cheque tá igual ao da assinatura: J. Pinto Fernandes. E os contratos foram feitos no nome da empresa, não no nome dele.
- Nos cartões de visita o nome também está dessa forma. Ele toma todas as precauções. Ninguém conhece o seu nome. Pelo menos ninguém que eu conheça. E ele exige…
- E ele exige ser chamado de Sr. Fernandes como você já deve ter percebido. – A secretária o interrompe.
- Mas ninguém nunca viu um documento dele?
- Ele sempre faz sozinho as coisas que precisam de seus documentos.

Após lembrar da frase de seu pai, o Sr. Fernandes voltou a caminhar rapidamente. Sabia que não poderia perder o respeito dos empregados chegando atrasado. Entretanto, não imaginava a euforia causada pelas discussões sobre seu primeiro nome. João, Joaquim, José, Jonatas. Parecia um daqueles bolões de copa do mundo. Havia os mais engraçadinhos que chutavam propositalmente nomes de duplo sentido como Jacinto Pinto Fernandes. Ou outras palavaras como Jumento Pinto Fernandes, fazendo referência a uma possível escassez de inteligência.
Uma informação que apenas o narrador de sua história possui é que, quando criança, o Sr. Fernandes odiava o próprio nome. Ele pensava em todas as outras possibilidades que seu pai teria tido na hora de seu batismo e tentava achar algum motivo para a escolha de sua graça. Até que um dia percebeu que uma mudança de nome não alteraria a mediocridade de sua existêcia. “Mundo mundo vasto mundo se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução.”, disse para si mesmo. A partir dali parou de pensar em outros nomes e passou a ocultar o seu.
Na fatídica quarta-feira, ele corria para chegar ao trabalho. Nunca ninguém o vira tão apressado. Notava-se as primeiras gotas de suor. Depois de uns três minutos alcançou a entrada da empresa. Ao abrir a porta ouviu:
- … precisam de seus documentos.
- Que documentos? – Sr. Fernandes perguntou.
- Esses contratos aqui. – respondeu a secretária sem titubear – Eles devem ser entregues àquele cliente em 15 minutos no máximo e falta o senhor assinar um deles.
Foi naquela hora que o recém-chegado office-boy realizou o que para uns foi um ato de pura coragem e para outros um erro sem precedentes. “E agora José?”, disse o rapaz em modo convicto.
- Perdão? – Estranhou Sr. Fernandes.
- O que vamos fazer? O cliente fica muito longe. Não dá tempo.
- Espera. Do que você me chamou?
- De José. Não é o seu nome?
- Passe no departamento pessoal por favor. – Depois voltando-se à secretária – Prepare o cancelamento do contrato temporário desse rapaz. – E foi para sua sala.
- Sr. Fernandes! E os contratos pro cliente? – A secretária gritou.
Sem falar nada, ele entrou em sua sala e bateu a porta. Logo em seguida, os outros três ouviram o rumor da fechadura sendo trancada.
“Certas palavras não podem ser ditas em qualquer lugar e hora qualquer.”, lembrou-se o office-boy pelo resto de sua vida.

Depois do ocorrido ninguém mais ousou tentar descobrir o nome do Sr. Fernandes. O mistério passou a ser muito mais enigmático. O significaria aquele jota? Qual era o nome de J. Pinto Fernandes?
Anos depois, quando essa história ainda era contada aos novos funcionários, ele se casou com Lili, uma bela garota, bem mais jovem que ele. Alguns diziam que ela não amava ninguém e os mais fofoqueiros comentavam que o casório ocorrera por razões financeiras. Ela era a única pessoa à qual o Sr. Fernandes dava o direito de tratá-lo por outro nome. Sua esposa sempre o chamava carinhosamente de docinho.

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2007

Show Business

Muitas câmeras
Nenhum camarim
Muitas manchetes
Nenhum manequim

Muita ação
Nenhum ator
Muito dinheiro
Nenhum diretor

Nenhum herói
Muita heroína.....

A fantástica cena final
Deste gênero de novela
Sempre é feita num igual
Cenário: cemitério ou cela

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Carnaval, carnaval, carnaval...Fico tão triste quando chega o carnaval.

A foto, copiada da internet, é do carnaval de Veneza, tradicional festa caracterizada por suas belíssimas fantasias que ocorre em uma das cidades mais fascinantes do mundo. A imagem corrobora essa descrição. Se a mesma tivesse som você notaria que trata-se de um carnaval sem samba, ou pior, sem música nenhuma. Se a mesma tivesse temperatura, você notaria que trata-se de um carnaval num frio próximo de zero grau. As máscaras até fazem lembrar o filme De Olhos Bem Fechados do Kubrick. Mas não se engane pensando que haja algo daquele ritual.
Outra cidade italiana famosa por seu carnaval é Ivrea. Ali é mais animado dizem. Tem guerra de laranjas. Vê se pode. A região toda se mobiliza pra assistir. Um me falou que “é legal quando tá mais frio pois as laranjas congelam e dói mais”. Italianos…
Em Turim notei uns resquícios de confete pelo chão e um traço de espuma (daquelas de spray) em um ônibus. E só.
Ah…quanta saudade do país do carnaval…

domingo, 18 de fevereiro de 2007

Déjà vu

Venho de dois fotologs falidos e agora vejo como é difícil criar um blog.

“Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.”