quarta-feira, 24 de março de 2010

Hello darkness, my old friend

É sexta-feira. É noite. É alto da serra.
É sempre assim: sou um dos primeiros a entrar no ônibus, deixo minha mochila na poltrona 29, vou ao fundo beber água, volto, acomodo-me e ligo meu iPod.
O ônibus parte. Quando as luzes se apagam, Paul Simon e Art Garfunkel começam a cantar “The Sound of Silence” ao pé do meu ouvido.
As janelas, como gigantes TVs de LCD, expõem vultos de maravilhosas paredes rochosas formadas pelas montanhas à beira da rodovia. Após uma curva, as muralhas de pedra dão trégua revelando um insólito céu estrelado. Dessa vez o habitual casal Neblina e Chuva não deu o ar de sua graça.
Os outros passageiros estão todos em silêncio. Imagino o que possa estar passando na cabeça de cada um. Ao meu lado está uma senhora. Será que está indo rever seus netos? Na outra fileira, observo os traços de uma boca cantarolando uma música inaudível. Antes que eu conclua qual é aquela canção, minha atenção é levada de volta para o alto.
Entre as poucas nuvens, surge ela, incansável companheira dos mais solitários: a Lua, em seu estado crescente, exibe sua invejável brancura. Na janela oposta, lá embaixo, vejo o Rio de Janeiro se revelando através das luzes de suas ruas e casas.
As montanhas voltam a envolver a estrada e ocultam as outras maravilhas do céu e da terra, analogamente às cortinas de um teatro após um extraordinário e inigualável espetáculo.
É quando minhas pálpebras começam a pesar. Então durmo com a certeza de que aquele será mais um fantástico final de semana em São Paulo.


ps.: Pena que a viagem nem sempre é assim.